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Amyl & the Sniffers: a origem controversa (e hilária) do nome da banda punk australiana

Punk rock, deboche e inalantes: a fórmula por trás do conjunto

Apresentação em 2022. O grupo vem conquistando públicos mundo afora. 📸 Foto: The Holy Grail / FlickrCC BY-NC-SA 2.0

Expectativa alta, entrega explosiva.

A espera em torno dos shows do Amyl & the Sniffers no Brasil foi recompensada, e agora o público é só elogio: “épico”, “incendiário”. O baterista Bryce Wilson chegou a dizer que não fazia ideia de como os brasileiros reagiriam. Na dúvida, a banda apostou em performances intensas — e venceu.

Mas essa presença expansiva e tensa de quem chega batendo porta também está presente no nome do grupo, e o motivo? Leia mais e descubra nesta matéria especial.

Trinta segundos de onda (e uma dor de cabeça dos infernos!)

O nome Amyl & the Sniffers mistura o primeiro nome da vocalista, Amy Taylor, com amyl, gíria australiana para o nitrito de amila — um vasodilatador inalável, conhecido entre os íntimos como popper. A substância é também chamam de “droga do amor”: ele provoca relaxamento muscular e intensifica algumas sensações.

Amy Taylor em ação #1: apresentação na Rought Trade, Londres (GB).
📷 Paul Hudson, via Flickr (CC BY 2.0)

Os efeitos colaterais? enxaqueca, tontura e taquicardia — uma experiência parecida com assistir o show da banda segundo a própria Amy, que em entrevista à BBC descreveu como “uma onda de 30 segundos seguida de uma dor de cabeça infernal”. O complemento “Sniffers” é direto: significa “cheiradores”. Fica óbvio pelo nome que eles não tem medo de causar.

Por trás da autoironia, a metáfora faz sentido: cada álbum é uma descarga crua de energia. As faixas raramente passam dos três minutos — e isso faz parte do charme. Em tempos de playlists genéricas, o Amyl & the Sniffers entrega intensidade genuína, e sem cerimônia.

Parece uma brincadeira infame?

Não, o nome é infame — e instigante com sua metáfora potente: ouvir a banda é como cheirar amyl: um pico de energia curto, brutal, que te deixa desorientado, querendo mais (ou jurando nunca mais chegar perto). Um efeito inebriante, como o canto de uma sereia expelido de caixas de autofalantes feito fumacê.

Um resultado sonoro que pode soar ainda mais chocante quando se toma conhecimento das origens do grupo.

Da calmaria de uma cidade hippie, á selvageria punk no litoral de Melbourne

O punk rock chamou a atenção de Amy Taylor desde cedo. Aos 13 anos, ela viu um show em um centro comunitário de Mullumbimby, cidade rural no Condado de Byron, conhecida por seus estilos de vida alternativos — daí o apelido de “cidade hippie”. Nele, a jovem pôde presenciar uma roda pogo em todo seu resplendor de violência consensual:

Amy Taylor em ação #2: intensidade que define o som do Amyl & the Sniffers. Apresentação na Rought Trade, Londres (GB).
📷 Paul Hudson, via Flickr (CC BY 2.0)

Tudo o que eu via era um bando de hippies que estavam todos felizes: ‘Está tudo bem, sem raiva aqui’. De repente, vi um monte de gente fula da vida e pensei: ‘Eu gosto disso’. Eu gostei porque era um bando de cara empurrando todo mundo, socando e ficando muito violento, não parecia nada que eu já tinha visto

— declarou Amy em matéria do Sidney Morning Herald, intitulada “Here’s trouble! Amyl and the Sniffers spray it like it is” (ou “Aqui está o problema! Amyl & the Sniffers espirram como se fosse” em tradução livre).

Não havia uma causa específica para sentir raiva, e para ela motivos nunca faltaram nesse mundo, mas, pessoalmente, havia um sentido a mais naquela desordem: liberdade. Isto é, no mínimo, surpreendente, por que, provavelmente não faltaram influências para ela seguir um caminho a lá Janis Joplin; não, ao contrário, Amy foi arrebatada para um caminho que lhe aproximou mais de Iggy Pop & The Stooges.

Primeiras gravações

A banda surgiu anos depois. Amy já morava na cidade grande, em Melbourne.

Em 2016, no bairro de St. Kilda, próximo ao litoral australiano, em uma noite eles gravaram quatro músicas e postaram no Bandcamp. O material chamou a atenção de Eric Moore, baterista da banda King Gizzard and The Lizard Wizard, que também chefiava a gravadora Flightless Records. O resultado: algumas turnês pela América do Norte.

A produção do primeiro disco, homônimo, ficou a cargo de Ross Orton, um dos responsáveis por AM, do Arctic Monkeys (que conta com o hit “Do i wanna know”). O álbum de Amy Taylor e companhia foi lançado em 2019 e recebeu a nota 7,2 da revista Pitchfork, referência mundial em resenhas de disco e famosa pela avaliação polêmica do debut do Måneskin (nota 2!) mesmo com o sucesso de Beggin na época.

Turnês internacionais e chegada ao Brasil

Seis anos se passaram de 2019 para 2025. Nesse meio tempo, o Amyl & the Sniffers lançaram mais dois discos:

📀 Comfort to Me (2021)
📀 Cartoon Darkness (2024)

Fizeram turnês com Fall Out Boys, Green Day, Weezer’s na Europa, e com o Smashing Pumpkins na Austrália.

Ou seja, o grupo praticamente deu uma volta ao mundo antes de chegar ao Brasil — com bagagem, óbvio, mas ainda assim um país que fala português, não inglês.

Aquela dúvida do baterista, lá no começo da matéria, até que faz sentido olhando agora.

Mas, pelos inúmeros registros da apresentação no Cine Jóia (SP) espalhados no Youtube, fica nítido que o idioma não foi barreira para um público visivelmente apaixonado.

E você, já conhecia o Amyl & the Sniffers ou descobriu agora? O que achou do som da banda — ou do show, se esteve lá? Conta aí nos comentários.

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